E dizia a
todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se
a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Lucas 9.23 [grifo
nosso]
Todo leitor
que se preza não dispensa a análise crítica e correta de um texto, seja ele
bíblico ou não. Ainda que tenha anos de vivência na arte de interpretar, sempre
se servirá das regras básicas de interpretação; regras estas existentes nas
mais variadas disciplinas do conhecimento, e muitas delas se aplicam por
intercessão. É o caso da semântica, por exemplo.
A semântica
sempre se aplica por intercessão, uma vez que ela se constitui no elemento
básico inicial para se entender um escrito. Numa pesquisa básica de dicionário,
qualquer deles, se extrairá que a semântica é o “Estudo das palavras e dos seus
elementos constitutivos, relativamente à sua significação”. Também, que é o
“Estudo das mudanças que, no espaço e no tempo, se operam na significação das
palavras”. Em síntese, ela identifica o sentido, o significado de um léxico em
sua contextualização.
Pois bem,
sendo assim, todas as vezes que alguém se propor a ler um artigo, ou um texto
das Sagradas Escrituras, ou mesmo uma pequena frase qualquer, não pode se
furtar, ou cometer o descuido, ou o erro, ou a desatenção, da utilização das
regras básicas de interpretação, conforme cada disciplina, e ainda de atentar
para as situações em que tais regras se intercessoram, como esta que
apresentamos. No ensino das Letras, das Ciências Jurídicas e Sociais, da
Teologia, etc., todas têm regras para conduzir o estudante/leitor para o
correto entendimento de textos, sejam eles pertencentes ao campo delas ou não.
Recordemo-nos das aulas de língua portuguesa, na quinta série do antigo
primeiro grau (hoje, sexto ano do ensino fundamental, se não nos falhe a
memória), em que a professora aplicava os ensinos da “Correção &
Interpretação de Texto”, e nos mandava ler na sala de aula trechos, ou mesmo
uma página inteira, das histórias contidas nos ‘livros de português’; e ao
final no pedia o entendimento do que era lido. Exercitava-nos em ‘Ditados’,
para que aprendêssemos verbalizar corretamente as palavras. As redações! Até
hoje se estuda técnicas de redação, pois ela tem servido até mesmo como
exigência para uma simples entrevista de emprego.
Por sua vez,
no texto em epígrafe, o ensino e o desafio apresentados por Jesus diz respeito
à NEGAÇÃO DE SI MESMO, e não à
ANULAÇÃO! Numa correta exegese (e semântica), logo se depreende das
Escrituras Sagradas que NEGAR-SE A SI MESMO É optar conscientemente pela RECUSA
da própria vontade quando esta se encontrar em confronto com os Sagrados
Ensinos. Pelo DIZER NÃO àquilo que contraria a vontade de Deus expressa na sua
Palavra. Pelo NÃO SE PRESTAR à obediência àquilo que sempre se contrastar com a
ética de Deus. Ou seja, optar pela RENÚNCIA!
Diferentemente
disso, ANULAÇÃO, como um aspecto da religiosidade humana, estabelecido e
imposto como um meio para se alcançar algum tipo de pureza espiritual, ou mesmo
certo grau de submissão ao que acreditam ser uma divindade, significa TORNAR NULO, INVALIDAR,
DESFAZER ou DESTRUIR. Tornar-se, portanto, inexistente, sem efeito, sem
forma, sem finalidade. É isto que ensinam e exercitam as religiões que não
observam o ensino de Jesus, elas exigem dos seus súditos a autoflagelação, o
enclausuramento monástico, o sacrifício físico de si mesmo em holocausto, tudo
características da ANULAÇÃO (de si mesmo) e meio de elevação espiritual e obediência
‘divinal’ entre eles.
Assim, resta
evidente que em nenhum vocábulo do texto em apreço tem transparecido que Jesus
disse para os que desejassem segui-lo que deveriam SE ANULAR, ou SE INVALIDAR,
ou SE DESFAZEREM-SE DE SI MESMOS, ou ainda DESTRUÍREM-SE A SI. A semântica dessa doutrina cristã é de
RENÚNCIA e não de anulação! E renúncia de tudo aquilo que não se afina
com a vontade moral de Deus. O que passar disto é: ou erro doutrinário, ou erro
interpretativo, ou mera especulação.
Por Sócrates de Souza.