terça-feira, 25 de novembro de 2014

Afinal: o que realmente devemos entender por 'Respeito’ e ‘Tolerância’?

Muito se tem ouvido falar as palavras ‘Tolerância’ e ‘Respeito’. No vocabulário de muitas pessoas elas já têm se tornado um jargão (linguagem viciada, corrompida; calão; gíria). Mas pouco se tem dito sobre a semântica contextual em que elas, na maioria das vezes, erroneamente se apresentam como sinônimo de condescendência.
Um exemplo dessa assertiva pode ser verificado na reação preconceituosa de muitas pessoas, quando explicitam ou supõem que se alguém ‘discorda de’ ou ‘tem claros e veementes posicionamentos sobre’, por exemplo, determinada cosmovisão, muitas das vezes em desencontro com o de uma maioria imediata, este é ‘Desrespeitoso’ ou ‘Intolerante’ por assim proceder. Tal reação revela uma interpretação semanticamente esquisita sobre tais termos, levando outras pessoas a entenderem erroneamente que ‘Respeito’ e ‘Tolerância’ são sinônimos de condescendência. Chega-se a julgar temerariamente o caráter ou a personalidade de alguém simplesmente por este ‘defender suas ideias com vigor’ ou ‘discordar explicitamente das de outras pessoas’. Absurdamente, até imputa-se por ‘intolerante’ alguém que contrarie, com bons e coerentemente fundamentados argumentos, entendimento alheio claramente equivocado ou sem fundamento. Um apelo típico à modalidade de ‘Respeito’ e ‘Tolerância’ politicamente correta (a anuente), como se opor-se convictamente a determinado fato ou ato, opinião ou comportamento, fosse desrespeitoso ou intolerante e, portanto, reprovável imediatamente. Quanta contemporização!
Outro, por sua vez, é um consequente dessa viciosidade de entendimento sobre o que deve ser compreendido por ‘Respeito’ e Tolerância’: alardeiam tais palavras como se elas devessem ser colocadas como um contrassenso legal, correto e absoluto a posicionamentos ou posturas alheias discordantes! Assim, se alguém expõe – ardorosamente ou não – discordar disto ou daquilo, ou explicitamente não admite determinada urdidura, de imediato deve ser indiciado – e ao final condenado –, respectivamente, por 'crime' de desrespeito ou intolerância. À semelhança do calão “é proibido proibir”, vociferam “não é permitido discordar!”; e com isto disseminam o engano de que os direitos à livre e desimpedida manifestação do pensamento e à liberdade de expressão devem ser entendidos como inatos apenas de quem se encontra do lado de lá, isto é, do lado afeto à determinada cosmovisão. E quem estiver do lado de cá, isto é, do lado oposto, contrário, dissonante de determinada maneira de interpretar o mundo, tem que se calar, se curvar, se sujeitar, uma vez que se encontra proibido de contrariar, de se opor, de contrapor ou de discordar. E tudo isto em nome não do sentido bem intencionado dos termos, mas dos jargões ‘Respeito’ e ‘Tolerância’. Quanta obscuridade de intelecto! O pensar e o agir diferente são liberdades individuais intransponíveis, intransferíveis e, de certo prisma, inegociáveis! E em que isto implica? Implica que autoriza absolutamente o direito de qualquer pessoa se opor, discordar, contrariar ideias ou comportamentos [tudo no campo da argumentação, ressalte-se!].
Ora, é característica essencial do ser humano ter “um juízo moral próprio sobre as mais variadas questões”, bem como direito tem de “se guiar por suas próprias ideias e convicções”. E não só isto, o indivíduo tem também o direito de, e “necessita expor as suas opiniões, buscar convencer os outros acerca das suas ideias, discuti-las com os demais integrantes da sociedade”; ele naturalmente “precisa expressar, exteriorizar essas ideias e pensamentos”! E isto muitas das vezes o conduz a discordar, e pronto. Logo, cada pessoa deve ter garantido o direito de expressar-se ou propagar pensamentos conforme interpreta a vida, desde que, claro, dentro dos parâmetros sócio-jurídicos justos existentes. Todos precisam entender que o direito efetivamente de ‘expor o que se pensa’ ou de ‘agir conforme esse pensar’ deve ser garantido em consonância lógica e isonômica com o direito ‘de discordar ou se opor parcial ou totalmente a cosmovisões alheias, ideias outras, ou comportamentos’. Isto é o que deve ser entendido por Respeito e Tolerância! Deste modo, fica evidente que não existe a figura destes termos como sinônimo de condescendência!
Ninguém, portanto, deve ser obrigado a transigir contra a sua própria consciência, a pretexto dos ditos ‘respeito’ e ‘tolerância’ como tem sido erroneamente apresentados, quando se encontrar diante de opiniões ou de cosmovisões diferentes. Pois assim como todos nós somos livres humana e juridicamente para pensar e agir como bem o nosso modo de ver o mundo nos oriente (ainda que enxerguemos a vida obscuramente), na mesma medida, temos todos, igualmente, o direito de discordar, até vigorosamente, e de buscar convencer os demais daquilo que acreditamos, quando não concordamos! 
Por Sócrates de Souza.